11ago
Ouro, prata, bronze, diamante, rubi, esmeralda, safira, pérola, ônix e turmalina. Essas são apenas algumas das preciosidades que Angela guardava na maleta comprada no camelô da 25 de março. Com seu jeito animado e cheio de energia, ela fazia questão de sorrir encantada a cada item novo de sua incrível coleção de esmaltes.
Os vidrinhos coloridos e de diferentes formatos representavam para Angela verdadeiras joias. Suas unhas impecavelmente esmaltadas se transformavam em lindas telas de um artista contemporâneo. Toda a segunda-feira, quando chegava ao escritório, ela exibia para nós a criação do final de semana.
Eu ainda sou da turma que prefere esmaltes clarinhos, quase invisíveis. Mas, ela aderiu à onda da nail art. Flores, grafismos, animais de estimação, estampas e acessórios, Angela já experimentara de tudo em suas unhas.
Graças à sua paixão pelos esmaltes, participava de uma rede de mulheres que compartilhavam do mesmo entusiasmo, que às vezes beirava à loucura. Seu desejo era ter esmaltes Chanel e Dior, mas o dinheiro não permitia esta extravagância. Por isso, acompanhava os lançamentos nos inúmeros blogs das esmaltólatras e procurava tons parecidos nas marcas nacionais.
Para aquela segunda, Angela pintara as unhas numa combinação de rubi com ouro, que formavam triângulos. Estava com uma camiseta vermelha, numa cor bem parecida com a tonalidades exibida nas mãos. Sempre em grande estilo e com visual arrematado por belas pulseiras douradas. O sorriso, entretanto, estava sem o brilho habitual. O que será que tinha acontecido?
Só consegui conversar com ela na hora do almoço e tive de insistir para que se abrisse. Forte e persistente, Angela soubera no sábado que a saúde de sua tia de 63 anos tinha piorado. O Alzheimer estava levando embora suas lembranças e disposição. Uma mulher íntegra e levemente rabugenta, mas que conseguira criar os três filhos e que substituíra a mãe de Angela, quando esta morreu precocemente. Uma amargura que ronda a vida e que desafia o otimismo.
Apesar da tristeza, ela não titubeara em visitá-la e proporcionar-lhe um pouco de alegria e satisfazer sua vaidade. Angela levou sua maleta de esmaltes preciosos, sentara aos pés de sua tia e fizera questão de cuidar dela, pintando cada unha com delicadeza e afeto. Finalizando com creme para deixar as mãos macias, transmitindo-lhe naquele gesto muito carinho. Eu lembrava de ter visto uma foto no Facebook dela ao lado da tia no sábado. Nem imaginei o que se passava por trás daqueles rostos sorridentes.
A partir daquele final de semana, Angela colocara um compromisso sagrado em sua rotina: o de ir até a tia com mais frequência e espalhar boas energias, conservar o ânimo dela e depositar um pouco de cor e do sentimento mais precioso naquela história: o amor.
Eu aproveitei para acompanhá-la em algumas oportunidades. O sentimento de revolta pela doença não torturava aquela família, um bom aprendizado para nós. Eram pessoas que aceitavam as mudanças no caminho com fé!
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