02ago
Machado de Assis, acredito que posso aprender bastante com você sobre como escrever crônicas! Com muito orgulho, reconheço sua contribuição à literatura brasileira – mas é certo que este meu elogio é irrelevante no momento, pois seu nome já integra a lista dos nossos imortais faz um bom tempo. Entretanto, esta nossa conversa para mim significa muito, pois eu posso treinar meu texto e contar para você o que anda acontecendo pelas ruas, calçadas, elevadores e praças aqui de São Paulo.
Mesmo com as muitas décadas de vida que nos separam, o seu argumento sobre como o calor é um tema que ajuda a criar uma crônica ainda é bem pertinente. O clima é um gatilho para se entabular conversas com conhecidos e desconhecidos pela vida afora. Agora, a gente debate também sobre aquecimento global, falta de chuva e destruição da natureza. Não tinha isso no seu tempo, não é mesmo?
Aproveito para contar também que os homens não carregam mais lenço no bolso ou usam sobrecasa e chapéu. Fazer roupa em alfaiates também é um hábito esquecido. Os trajes são comprados em grandes lojas, chamadas de magazines, ou em lojas que vendem tudo por preço de banana, em bairros como Brás e Bom Retiro. Agora, é o tempo da camiseta, da calça jeans, da camisa de manga curta, dos tênis. Quem tem mais dinheiro, pode ir a um shopping center e comprar o que se chama de roupa de “grife”, com caimento perfeito, bom corte e tecido nobre.
Voltando à questão do calor exagerado, mesmo em pleno inverno, nós lastimamos seus efeitos e podemos nos ver afetados pelo racionamento de água. O que é racionamento? De forma simples, posso dizer que é a falta de água nas nossas torneiras e um monte de queixas contra nossos governantes, que não investiram na gestão dos recursos hídricos, e reclamações contra São Pedro, que não nos manda a chuva.
Quem trabalha na rua, exposto ao sol de rachar, continua sofrendo com o calor. Estão neste grupo os ambulantes, os garis, os operários que consertam o asfalto de nossas avenidas, os taxistas e também aqueles que abrem as covas nos cemitérios da cidade. Para combater o calor, aproveitamos para nos refrescar com sorvetes e comprar a garrafinha de água do vendedor no semáforo, com a esperança de que esteja geladinha. Na maioria dos escritórios, todos agradecem pelo frescor proporcionado pelo ar condicionado. Os desafortunados suam em bicas mesmo e reclamam.
Dizem até que o inferno já chegou, mas eu ainda não tenho certeza. Como o calor não me amedronta, vou aproveitar para dar um passeio. Depois, volto para narrar um pouco mais do que vi e ouvi pela metrópole.
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