Zona de Interesse: filme apresenta um olhar perturbador sobre o Nazismo e o convívio com a barbárie
Zona de Interesse: filme apresenta um olhar perturbador sobre o Nazismo e o convívio com a barbárie
A produção cinematográfica tem o poder de nos confrontar com as histórias mais cruéis da história humana, muitas vezes nos obrigando a refletir sobre eventos que preferiríamos esquecer. Em tempos de avanço da extrema direita global e discussões crescentes sobre o nazismo, um filme que se destaca por seu retrato impactante é Zona de Interesse. Lançado em 2023 e indicado a cinco Oscars na disputa de 2024, este filme, dirigido por Jonathan Glazer, baseia-se em fatos narrados no livro homônimo de Martin Amis e destaca a indiferença do mal de maneira fria e brutal.
“Zona de Interesse” nos transporta para o cotidiano de uma família nazista que vivia à sombra de Auschwitz, o maior campo de concentração construído pelos alemães nazistas ao sul da Polônia. A narrativa é centrada no comandante do campo, Rudolf Höss, vivido pelo ator Christian Friedel, e sua família, enquanto levam uma vida aparentemente serena, sem remorsos, ao lado de uma máquina de extermínio humano.
Este contraste absoluto entre a tranquilidade e a felicidade domésticas e o horror inimaginável ao lado é um testemunho perturbador do que ocorre quando as pessoas se desumanizam. Nela, as mulheres “herdavam” as roupas e joias de mulheres que tinham sido incineradas nos fornos. As empregadas precisavam deixar a casa impecável e limpar as cinzas dos fornos que entravam na casa. As crianças brincavam e iam nada e passear com o pai em um rio de águas limpas na região.
Uma cena do filme que eu não esqueço é uma em que Rudolf Höss se encontra com um empresário para discutir formas de aumentar a eficiência dos fornos de extermínio, uma conversa que ilustra e evidencia o uso da tecnologia para perpetuar atrocidades indescritíveis. Este diálogo nos alerta sobre os perigos do uso das inovações para fins desumanizadores, especialmente em uma era em que a tecnologia avança rapidamente e muitas vezes sem regulamentações éticas claras e sem qualquer compromisso por parte das empresas que as vendem/desenvolvem.
Apesar de ser promovido e afastado do comando de Auschwitz em 1943, a esposa de Höss continua vivendo na residência, valorizando a beleza superficial do ambiente, indiferente ao horror por trás dos muros cinzentos do campo de concentração. Ela não quer abandonar o local que ela cuidou e deixou tão aconchegante e bonito para sua família, mesmo que ao fundo tenha um muro alto e pessoas sendo brutalmente assassinadas. Em 1944, Höss retorna para coordenar o assassinato de 400 mil judeus húngaros, um testemunho da eficiência bárbara e do genocídio que ele ajudou a implementar.
Esta história retratada no filme Zona de Interesse nos alerta sobre a complacência e indiferença que ainda existem em nossa sociedade, reafirmando a importância de permanecer vigilantes contra a naturalização da barbárie e o perigo que isso representa.
Para saber o que aconteceu com a família Höss após o fim da Segunda Guerra Mundial, eu indico essa matéria publicada na revista Veja.
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