Resenha: filme “Não Olhe para Cima” nos faz encarar o fim do mundo e critica a sociedade contemporânea
Resenha: filme “Não Olhe para Cima” nos faz encarar o fim do mundo e critica a sociedade contemporânea
“Não Olhe para Cima” é uma comédia satírica que, apesar de seu tom humorístico, aborda de maneira incisiva e atual questões cruciais do nosso tempo. Em meio a um cenário apocalíptico, o longa traz à tona temas como a alienação provocada pelas redes sociais, a desconsideração pela ciência, a influência desmedida das gigantes da tecnologia, a desconexão dos políticos em relação às grandes preocupações sociais e os iminentes perigos ambientais que ameaçam a Terra. Lançado na Netflix no final de 2021, o filme utiliza o humor ácido para criticar a maneira como a sociedade moderna gerencia crises, destacando a tendência frequente de líderes priorizarem interesses pessoais e financeiros em detrimento do bem comum.
A narrativa centraliza-se na descoberta de um cometa de 10 km de diâmetro por um grupo de astrônomos, revelando as reações subsequentes do governo, da mídia e da sociedade em geral. A trama desafia os espectadores a refletirem sobre sua provável reação diante de uma ameaça colossal e questiona se a humanidade seria capaz de se unir para enfrentar um problema de escala global. No entanto, a história nos apresenta um mundo onde desinformação, negacionismo e interesses corporativos ditam os rumos dos acontecimentos. Qual seria o papel dos governos, das empresas e do cidadão comum em meio a uma crise de tal magnitude? Esta é uma das principais perguntas que emergem do enredo.
Elenco e personagens de “Não Olhe para Cima”
Com uma crítica mordaz, “Não Olhe para Cima” reúne um elenco estrelado de Hollywood para satirizar aspectos da sociedade contemporânea digital, como a proliferação de fake news, o impacto das empresas tecnológicas gigantes, políticos descomprometidos com a verdade e o sensacionalismo midiático que transforma ameaças em espetáculos. Vamos ver como cada personagem contribui para a narrativa crítica do filme:
– Jennifer Lawrence como Kate Dibiasky: Kate é a astrônoma responsável pela descoberta crucial do cometa e simboliza a voz da razão e da ciência. Ela representa o desafio constante de ser ouvida em um mundo onde a verdade é frequentemente distorcida, mantendo-se firme em seus princípios perante as pressões externas.
– Leonardo DiCaprio como Dr. Randall Mindy,: é o cientista-chefe do grupo de astrônomos, inicialmente comprometido com a missão de alertar o mundo sobre o cometa. No entanto, sua integridade vacila à medida que ele se deixa seduzir pelo glamour e poder oferecidos pelos holofotes, deixará de lado sua família e seu casamento, culminando em um romance com a jornalista Brie Evantee.
– Meryl Streep como Presidente Orlean: uma versão caricatural de uma líder que espelha a falta de seriedade política e a corrupção moral. Preocupada mais em manter sua popularidade e acobertar escândalos do que em salvar o planeta, Orlean personifica a hipocrisia e o oportunismo. Em um primeiro momento, se engaja no problema. Mas é dissuadida por um empresário que representa o poder das big techs, interessado nas riquezas minerais que o cometa traz. Lança uma campanha negando o risco que o cometa representa. Basta não olhar para cima!
– Mark Rylance como Peter Isherwell: este é o CEO de tecnologia que representa o poder e a sede de lucro das big techs, disposto a arriscar o futuro da humanidade por um lucro iminente. Sua crença cega na tecnologia é uma crítica ao complexo de deus que muitos líderes de empresas de tecnologia demonstram. É o principal financiador da campanha eleitoral da presidente e usa esse controle para “convencê-la” de que é possível enviar uma missão até o cometa, antes dele se chocar com a Terra. Quando isso falha, foge em uma espaçonave junto com um grupo reduzido de poderosos, que inclui a presidente Orlean.
– Cate Blanchett como Brie Evantee: sua personagem personifica o papel da mídia sensacionalista que transforma crises seríssimas em entretenimento trivial, sublinhando como os meios de comunicação muitas vezes minimizam a gravidade das situações em troca de audiência. Seu caso com o Dr. Mindy destaca a forma como eventos sérios são transformados em entretenimento vazio.
– Tyler Perry como Jack Bremmer: complementa a sátira midiática ao lado de Blanchett, dramatizando o papel destrutivo do entretenimento irresponsável.
– Ariana Grande como Riley Bina: a celebridade e influenciadora que, apesar de sua futilidade aparente, consegue atrair atenção ao problema através de um show, simbolizando como celebridades podem influenciar a opinião pública.
– Jonah Hill como Jason Orlean: é o filho da presidente e representa o nepotismo e o negacionismo, mostra como laços pessoais muitas vezes se sobrepõem à competência em posições críticas de poder. Sua própria mãe o abandona, ressaltando um mundo onde mesmo laços familiares são descartáveis. Sua mãe não hesita em abandoná-lo no planeta, pois não tem lugar reservado para ele na espaçonave.
Planeta sem salvação
O título “Não Olhe para Cima” representa o choque entre campanhas de conscientização e iniciativas de desinformação. Enquanto a campanha “Olhe para cima” ganha força nas redes sociais após a visibilidade a olho nu do cometa, a administração governamental divulgada uma mensagem contrária, “Não Olhe para Cima”, numa tentativa de distrair o público do iminente apocalipse.
“Não Olhe para Cima” serve como um espelho incômodo, refletindo os fracassos coletivos na abordagem de problemas críticos, expondo a fragilidade das prioridades humanas frente ao iminente apocalipse. Para além de uma sátira social, o filme provoca uma reflexão profunda sobre nossa capacidade genuína de colaboração em momentos de crise, abordando a necessidade de reavaliar nossas prioridades individuais e coletivas quando confrontados com adversidades existenciais. O cometa ilustra a derradeira advertência de que, após seu impacto, não haverá mais salvação possível para a maioria.
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