Estudo realizado com apoio do A.C.Camargo Cancer Center revela que o uso de alguns medicamentos para tratar Covid-19 apresentam risco de evolução da resistência antimicrobiana

Estudo realizado com apoio do A.C.Camargo Cancer Center revela que o uso de alguns medicamentos para tratar Covid-19 apresentam risco de evolução da resistência antimicrobiana


Estudo realizado pelo consórcio internacional MetaSub, que reúne cientistas especialistas em genômica, análise de dados, engenharia, epidemiologia e saúde pública para mapear a microbiota (variedade e quantidade de bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos), e que tem entre seus participantes o A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, revelou possíveis impactos futuros da lotação dos hospitais e do uso excessivo de medicações (inclusive hidroxicloroquina) sem efeito para tratamento da COVID-191.

O motivo é a gestão da COVID-19 feita ao redor do mundo, que muitas vezes empregou quantidade alta de medicamentos em intervenções farmacológicas diversas e que deve acelerar a evolução e disseminação de microrganismos resistentes. Um estudo anterior do mesmo grupo mostrou padrões de colonização microbiana alterados e preocupantes podendo levar a maior diversidade de reservatórios de genes de resistência antimicrobiana2.

Em 2020, houve um importante aumento no fluxo hospitalar, incluindo a maior admissão de pacientes com COVID-19. Assim, até hoje muitos hospitais têm atendido além de suas capacidades. Com as hospitalizações excedendo o padrão normal e a função imunológica prejudicada devido à debilidade causada pela COVID-19, os riscos de coinfecções tiveram aumento substancial, levando à criação de protocolos de mudanças rápidas para tratamento do paciente, incluindo a administração de vários medicamentos, muitas vezes com eficácia duvidosa em todo o mundo.

O uso de drogas com efeito antiparasitário, medicamentos antivirais diversos, antibacterianos e anti-inflamatórios para prevenir infecções secundárias em pacientes com COVID-19 durante uma pandemia tão prolongada convida inevitavelmente a complicações futuras. Isto inclui um impacto ainda não conhecido na saúde e na microbiota e também deve levar a um agravamento de resistência a antimicrobianos.

“Isso é particularmente relevante para o surgimento e sucessiva seleção de mutações em microorganismos presentes no corpo e também no ambiente hospitalar, o que pode levar a futuras complicações. Devido ao maior volume de pacientes e ao uso de grande quantidade de medicamentos diversos os impactos em microrganismos diversos devem ser altos e ainda imprevisíveis”, diz o Dr. Emmanuel Dias-Neto, cientista chefe do Laboratório de Genômica Médica do Centro Internacional de Pesquisas (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center.

Segundo o cientista, que participou do estudo, a maioria dessas drogas é usada tendo outros patógenos como alvo e, além de não afetarem o SARS-CoV-2 e não terem impacto clínico na COVID-19, podem prejudicar os já desafiantes tratamentos de doenças causadas por bactérias, fungos e outras infecções virais. “Com drogas frequentemente substituídas por novas opções terapêuticas, o medo de maior resistência a antibióticos é uma realidade”, alerta.

Mesmo com a escassez de evidências, houve uma demanda crescente e o uso indevido de vários medicamentos. Várias destas drogas começaram a ser usadas indevidamente, sem qualquer evidência científica e por vezes na tentativa infundada de prevenir a ocorrência da doença clínica ou evitar a infecção. “O uso desses medicamentos, incluindo diversos agentes antivirais e antibióticos, pode levar a alterações na microbiota de pacientes que receberam este tratamento levando a uma quebra de simbiose que pode ser propícia à emergência e disseminação de resistência a múltiplas drogas, ou mesmo ao desencadeamento de outras doenças”, completa.

O estudo reafirma a importância de todos estarem vigilantes e cautelosos para que a luta contra Covid-19 não cause outras importantes ameaças à humanidade.

Referências

1 – Afshinnekoo E, Bhattacharya C, Burguete-García A, Castro-Nallar E, Deng Y, Desnues C, Dias-Neto E, Elhaik E, Iraola G, Jang S, Łabaj PP, Mason CE, Nagarajan N, Poulsen M, Prithiviraj B, Siam R, Shi T, Suzuki H, Werner J, Zambrano MM, Bhattacharyya M on behalf of the MetaSUB Consortium. COVID-19 drug practices risk antimicrobial resistance evolution. The Lancet Microbe 2021 DOI: 10.1016/s2666-5247(21)00039-2

2 – Chng KR, Li C, Bertrand D, Ng AHQ, Kwah JS, Low HM, Tong C, Natrajan M, Zhang MH, Xu L, Ko KKK, Ho EXP, Av-Shalom TV, Teo JWP, Khor CC; MetaSUB Consortium (Dias-Neto E), Chen SL, Mason CE, Ng OT, Marimuthu K, Ang B, Nagarajan N (2020). Cartography of opportunistic pathogens and antibiotic resistance genes in a tertiary hospital environment. Nature Medicine 26(6):941-951.

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