O
medicamento foi aprovado após a publicação dos resultados de um estudo
publicado no The New England Journal of Medicine, realizado com cerca de
900 pacientes. Indicada para casos avançados inoperáveis ou metastáticos, a
droga Atezolizumabe, aprovada para o câncer de mama triplo negativo, bloqueia
especificamente a molécula PD-L1, produzida pelo câncer e pelas células
inflamatórias. Ao inibi-la, o medicamento auxilia a resposta imune do próprio
organismo a reconhecer o câncer e combatê-lo.
A
pesquisa mostrou uma taxa de sobrevida de 21,3 meses para pacientes que
utilizaram a imunoterapia juntamente com a quimioterapia. Em contrapartida, a
sobrevida foi de apenas 17,6 meses para aquelas que não usaram o imunoterápico.
Quando o câncer era positivo para PD-L1, através do exame de imuno-histoquímica, essa
taxa atingiu a marca de 25 meses. Consequentemente, para a indicação da droga,
pacientes com tumores triplo negativos irressecáveis ou metastáticos deverão
ter suas amostras testadas para o PD-L1, cuja avaliação também é feita pelo médico patologista.
“Esse
achado é tão importante porque fazia muito tempo que esses tumores estavam
sendo estudados. Várias drogas foram testadas anteriormente, mas até então sem
benefício clínico comprovado”, afirma Marina De Brot, médica patologista,
secretária geral da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e uma das
coordenadoras do Clube da Mama da Sociedade.
A
partir da liberação, a medicação, agora, pode ser comercializada no país. Porém,
alerta a especialista, o imunoterápico ainda não está disponível no sistema
público de saúde e seu alto custo é um desafio para melhoria no tratamento do
câncer de mama.
Como age a imunoterapia
Dr. Marcelo Corassa, oncologista clínico do A.C.Camargo Cancer Center, explica que a imunoterapia é um tratamento que atua diretamente no sistema imune do
indivíduo que a recebe. "Continuamente as células do nosso organismo sofrem
mutações e podem levar a um câncer, algo que é bloqueado em parte pelo nosso
sistema imune. Quando o tumor surge ocorreu uma falha da imunidade, geralmente
porque as células neoplásicas foram capazes de "se esconder" ou
"fugir" da atividade das células de defesa. Uma vez iniciado o
tratamento, os medicamentos fazem com que haja um estímulo do sistema imune,
potencializando as células específicas que combatem o que é estranho ao
organismo, levando ao melhor reconhecimento das células tumorais e,
consequentemente, capacitando o ataque e destruição destas".
O procedimento promove um balanço entre a atividade positiva e negativa da imunidade. "Existem inúmeros processos relacionados ao sistema imune no organismo e há um
equilíbrio para que não reconheçamos a nós mesmos como estranhos. As células
tumorais se utilizam deste processo para tentar evadir da atividade endereçada
contra elas. O câncer, por si só, pode suprimir a imunidade do indivíduo
fazendo, inclusive, com que ele fique mais suscetível a infecções. Neste sentido,
estimular as nossas células para lutar contra algo que é estranho e que não
deveria estar dentro de nós faz todo sentido biológico", esclarece Corassa.
Hoje não existem imunoterapias orais. Todas as drogas são ministradas
por via endovenosa (ou seja, pela veia) diluídas em soros específicos. A
maioria das imunoterapias é administrada em um intervalo de 30-60 minutos, em
intervalos que se repetem a cada 2, 3 ou 4 semanas - o protocolo é definido pelo oncologista. "Dependendo da indicação o
tratamento pode ter uma data prevista para seu final, mas também pode ocorrer a
administração enquanto houver uma boa resposta contra o câncer. Pelo menos uma
vez por mês os pacientes irão passar em seus oncologistas para avaliar os
efeitos colaterais, a efetividade do tratamento e decidir sobre a manutenção do
mesmo", alerta
Dentro do universo de estudos sobre o câncer triplo negativo, existem dados interessantes que apontam para para a adição da imunoterapia
a quimioterapia, radioterapia e mesmo a própria imunoterapia. "Hoje, no Brasil,
existe aprovação para uso concomitante de quimioterapia e imunoterapia e de
imunoterapia posterior a quimioterapia e radioterapia. O racional para isso
deriva do sinergismo entre os tratamentos. Alguns tumores são ditos como
"frios" - ou seja, são tumores pouco inflamados e muito capazes de
escapar do sistema imune. Quando associamos a quimioterapia ou a radioterapia
(de forma concomitante ou sequencial) ocorre o "aquecimento" do
tumor. Em suma, ele fica mais visível ao sistema imune, que está sendo
estimulado pela imunoterapia, fazendo com que haja a sinergia entre os tratamentos. Estão
sendo avaliados em estudos clínicos, atualmente, os resultados doo uso de imunoterapia antes de
cirurgia ou radioterapia, concomitante a radioterapia, com anticorpos
bloqueando outras vias ativadas nos tumores e mesmo com outras indicações, como
agentes infecciosos modificados", finaliza Corassa.
Você pode conferir no blog o post sobre bioterapia, outro tratamento disponível para diferentes tipos de cânceres.
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