Temos visto várias matérias na imprensa e uma série de
vídeos das mais diversas celebridades (e também pessoas comuns) recebendo um
banho de água com gelo. Este desafio foi criado com o intuito de chamar a
atenção da população para uma doença ainda muito pouco conhecida e que tem
efeitos devastadores: a esclerose
lateral amiotrófica (ELA),
doença neurológica degenerativa sem cura. Estima-se que a doença atinja cerca
de 15 mil brasileiros. O diagnóstico da doença cai como um balde de água fria na vida das pessoas, que precisam contar com o apoio da família, dos amigos e dos médicos. Junto com a campanha, está sendo estimulada a doação de recursos para ajudar nas pesquisas de tratamento.
A esclerose lateral amiotrófica danifica as
células nervosas motoras do cérebro, tronco cerebral e da medula. Com isso, a
capacidade de o cérebro controlar movimentos voluntários diminui
progressivamente. O quadro tende a evoluir até a paralisia completa, inclusive
dos músculos da fala, da deglutição e da respiração, e seus portadores, em
geral, têm uma expectativa de vida de três a cinco anos após o diagnóstico da
doença.
Ainda não se conhece a causa específica para a
esclerose lateral amiotrófica, mas alguns pesquisadores acreditam que a
utilização excessiva da musculatura favorece o mecanismo de degeneração das
células nervosas motoras, por isso os atletas representariam a população de
maior risco. O blog Glamour e Felicidade decidiu participar deste desafio e publicar esta entrevista com a Coordenadora do Serviço de Neurologia do Hospital Barra D’Or, dra.
Elizabeth Batista, que respondeu a algumas perguntas sobre a doença:
1) O que é a Esclerose Lateral Amiotrófica
(ELA)?
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) ou doença
de Lou Gehrig é uma doença degenerativa que causa morte dos neurônios motores de
maneira crônica e rapidamente progressiva, determinando uma paralisia motora
igualmente progressiva, de caráter irreversível. Em geral, o óbito ocorre em até
cinco anos após o diagnóstico da doença. A incidência é de um a dois
casos/100.000 pessoas por ano, com predominância no sexo masculino e idade média
de início em torno dos 50 anos.
2) Quais os sintomas da ELA?
Os sintomas incluem fraqueza muscular, cãibras e
miofasciculações (discretas contrações de fibras musculares, como se “a carne
tremesse”). Surge progressivamente atrofia muscular com rigidez de movimentos
dos membros superiores e inferiores, assim como acometimento da musculatura
craniana representada por distúrbio da fonação, da deglutição e fraqueza da
musculatura de língua.
3) Quais as causas da ELA?
As causas da ELA são multifatoriais. A morte do
neurônio motor é caracterizada por dano na estrutura funcional da célula, seja
por alterações do DNA ou por stress funcional (desequilíbrio entre acúmulos
bioquímicos) ou necrose por agressão direta ao neurônio motor. Os fatores de
risco relacionados à doença são distúrbios inflamatórios, exposição a agentes
tóxicos e traumas físicos mecânicos, elétricos ou cirúrgicos. Em apenas cerca de
10% dos casos pode ter causa familiar (mutação genética).
4) Há como prevenir a doença?
Por tratar-se de uma doença de causas
multifatoriais, ainda não foram estabelecidas formas de prevenção
comprovadas.
5) Qual o tratamento para a ELA?
A ELA ainda é uma doença sem cura, porém existem
pesquisas promissoras quanto à liberação de medicamentos que podem modificar ou
retardar sua evolução natural aumentando a expectativa de vida. Algumas
medicações ainda estão em fase de análise de eficácia, mas o inibidor da
liberação do glutamato (aminoácido não essencial) já tem sua eficácia comprovada
no retardo da doença. O tratamento dos sintomas da doença oferece melhora da
qualidade de vida do paciente. Estão indicados medicamentos para sintomas
depressivos e contrações musculares dolorosas, além de fisioterapia motora,
respiratória e acompanhamento fonoaudiológico e nutricional.
6) Existe alguma relação entre a doença e a
questão do balde de gelo?
Não há propriamente relação da doença com a água
fria. A ideia do desafio do balde de gelo (ice bucket challenge) seria tentar
fazer alusão ao impacto que esse diagnóstico causa ao indivíduo. O conhecimento
de ser portador de uma doença degenerativa, com evolução rápida para o
encarceramento e morte, provocaria um choque inicial tão arrepiante quanto um
balde de água fria.
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