Ouro,
prata, bronze, diamante, rubi, esmeralda, safira, pérola, ônix e turmalina.
Essas são apenas algumas das preciosidades que Angela guardava na maleta
comprada no camelô da 25 de março. Com seu jeito animado e cheio de energia,
ela fazia questão de sorrir encantada a cada item novo de sua incrível coleção
de esmaltes.

Eu
ainda sou da turma que prefere esmaltes clarinhos, quase invisíveis. Mas, ela aderiu
à onda da nail art. Flores,
grafismos, animais de estimação, estampas e acessórios, Angela já experimentara
de tudo em suas unhas.
Graças
à sua paixão pelos esmaltes, participava de uma rede de mulheres que
compartilhavam do mesmo entusiasmo, que às vezes beirava à loucura. Seu desejo
era ter esmaltes Chanel e Dior, mas o dinheiro não permitia esta extravagância.
Por isso, acompanhava os lançamentos nos inúmeros blogs das esmaltólatras e
procurava tons parecidos nas marcas nacionais.
Para
aquela segunda, Angela pintara as unhas numa combinação de rubi com ouro, que
formavam triângulos. Estava com uma camiseta vermelha, numa cor bem parecida
com a tonalidades exibida nas mãos. Sempre em grande estilo e com visual arrematado
por belas pulseiras douradas. O sorriso, entretanto, estava sem o brilho
habitual. O que será que tinha acontecido?
Só
consegui conversar com ela na hora do almoço e tive de insistir para que se
abrisse. Forte e persistente, Angela soubera no sábado que a saúde de sua tia
de 63 anos tinha piorado. O Alzheimer estava levando embora suas lembranças e
disposição. Uma mulher íntegra e levemente rabugenta, mas que conseguira criar os
três filhos e que substituíra a mãe de Angela, quando esta morreu precocemente.
Uma amargura que ronda a vida e que desafia o otimismo.
Apesar
da tristeza, ela não titubeara em visitá-la e proporcionar-lhe um pouco de
alegria e satisfazer sua vaidade. Angela levou sua maleta de esmaltes preciosos,
sentara aos pés de sua tia e fizera questão de cuidar dela, pintando cada unha
com delicadeza e afeto. Finalizando com creme para deixar as mãos macias,
transmitindo-lhe naquele gesto muito carinho. Eu lembrava de ter visto uma foto
no Facebook dela ao lado da tia no sábado. Nem imaginei o que se passava por
trás daqueles rostos sorridentes.
A
partir daquele final de semana, Angela colocara um compromisso sagrado em sua
rotina: o de ir até a tia com mais frequência e espalhar boas energias, conservar
o ânimo dela e depositar um pouco de cor e do sentimento mais precioso naquela
história: o amor.
Eu
aproveitei para acompanhá-la em algumas oportunidades. O sentimento de revolta pela doença não
torturava aquela família, um bom aprendizado para nós. Eram pessoas que
aceitavam as mudanças no caminho com fé!
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