Verde, roxo, amarelo,
laranja, com bolinhas, corações ou listras. Tinha até as versões com símbolos de grandes
times de futebol de São Paulo. Todo dia via aquela profusão de cores naquele
cruzamento movimentado, num dos bairros mais elegantes de São Paulo, ali onde Brasil e Europa se cruzam.
Como vinham parar ali e como
conseguiam permanecer ali eram para mim fatos incompreensíveis. Mas, precisava
existir uma explicação! Quem os trazia? Quem os comprava?
Enfileirados e acompanhando
o trânsito intenso, aqueles porquinhos de gesso tinham ares de indiferença à
movimentação, ao luxo do local, ao barulho dos automóveis.
Eu os via diariamente, cada
vez que retornava para casa depois de um dia exaustivo no trabalho. Ficavam no
chão, chamativos na calçada. Lembro que às segundas, eles não apareciam.
Deveria ser o dia de folga do ambulante.
Um dia, quando parei no
semáforo daquele cruzamento e estava mais cansada, cheguei a devanear. Parecia
que aqueles animaizinhos tinham voado em direção ao carro, como se tivessem
asas. Pequenos porcos a voar.
Lembrava também dos meus
cofrinhos de infância, pequenos troféus. Tive um bem querido. Um cofre-porquinho
de plástico vermelho. Sofri quando o cortei para desfrutar das moedas. Mas,
chegava a hora deles, invariavelmente chegava e tínhamos de destruí-los para pegar
as economias. Hábito comum no passado, quando pais e tios queriam ensinar às
crianças o valor do dinheiro.
Naquele cruzamento, o
vendedor carregava uma destas "obras de arte" na mão, para exibir aos motoristas
junto com os carregadores de celular. Nunca vi alguém comprar um daqueles
cofrinhos, mas se estavam ali é porque deveriam ter seus fãs: crianças
empolgadas com a oportunidade de guardar a grana da mesada para depois gastar
com o álbum de figurinhas.
Aquele
homem poderia estar roubando, matando, mas estava ali vendendo seus porquinhos.
Fizera a escolha mais certa, diriam alguns. É preciso levar dinheiro para casa
e sustentar os filhos de algum jeito - mesmo nos dias de garoa em São Paulo,
mesmo nas tardes quentes do horário de verão.
Pensando
bem, na próxima vez que parasse na Brasil com a Europa eu compraria o meu.
Escolheria um porco rosinha, colaria nele asas e o esconderia da visão dos
amigos. Seria o meu segredo, minha volta à infância. Guardaria todo dia a minha
moeda, até chegar o momento de o destruir e apreciar a minha riqueza acumulada,
que seria facilmente convertida em deliciosos sorvetes. Reviver.
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