A popularização do MMA, assim como a prática de outros esportes de contato,
aumenta o risco de doenças neurológicas, alerta o neurocirurgião Dr. Antonio De Salles, coordenador do HCor Neuro. Os repetidos socos e chutes na cabeça
do atleta, seja amador ou profissional, causam microtraumas cerebrais que
aceleram o desgaste natural do órgão. Assim, doenças neurodegenerativas tendem a
surgir precocemente, como mal de Alzheimer, demência do pugilista e mal de
Parkinson.
Um dos maiores pugilistas da história, o norte-americano Muhammad Ali,
sofre hoje com os tremores característicos do mal de Parkinson. Aqui no Brasil,
o lutador Maguila enfrente o mal de Alzheimer. Ambos foram expostos aos
repetidos traumas das lutas de boxe. “Os combates de MMA também podem ser muito
prejudiciais ao cérebro. O impacto de uma joelhada certeira ou de um chute
direto na cabeça causam danos cerebrais imediatamente”, completa o neurocirurgião
Dr. Antonio De Salles, coordenador do HCor Neuro.
Essas doenças neurológicas dificilmente apresentam sintomas enquanto o
atleta é jovem e praticante do esporte. Elas estão relacionadas à idade e tendem
a se manifestar após os 50 anos. Contudo, o desgaste acelerado do cérebro pelo
esporte de contato pode antecipar o problema.
O mal de Parkinson, por exemplo, atinge cerca de 1% da população com idade
igual ou superior a 65 anos. Conforme a sociedade envelhece, a doença deve se
tornar cada vez mais comum. Segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), a população idosa deve triplicar nos próximos 20 anos,
saltando de 22,9 milhões para 88,6 milhões.
Progressão da doença
“A fase inicial da doença, conhecida como honeymoon period, pode
durar de quatro a 10 anos. Nela, o paciente tem controle completo ou quase
completo dos sintomas parkinsonianos apenas com medicação e fisioterapia. As
limitações começam a surgir geralmente após o quarto ou sexto ano do
diagnóstico. Os sintomas se tornam mais difíceis de serem controlados”, afirma a
Dra. Alessandra Gorgulho, neurocirurgiã e coordenadora do HCor Neuro.
Nessa fase, os pacientes apresentam as discinesias (movimentos
involuntários após a ingestão da medicação) e as flutuações ON/OFF (oscilações
no controle das funções motoras).
Cirurgia precoce
A cirurgia traz grande beneficio aos pacientes nesse período. Publicações
científicas de impacto mostram que a indicação cirúrgica mais precoce resulta em
melhor qualidade de vida e em mais controle das funções motoras, em comparação
ao manejo exclusivamente com medicação.
Quando o paciente encontra-se na fase tardia e final da doença, a cirurgia
não traz benefícios significantes. Os melhores resultados acontecem em pacientes
com menor tempo de doença e que tenham as funções cognitivas preservadas (não
dementes e sem alterações emocionais importantes).
Como é a cirurgia
A cirurgia consiste na colocação de eletrodos no tecido cerebral em núcleos
envolvidos com o controle do inicio e da execução de movimentos. Isso faz com o
tremor seja controlado e com que a rigidez diminua, possibilitando ao paciente
uma regressão da doença em 10 a 15 anos. A estimulação elétrica cerebral é uma
técnica cirúrgica reversível, ou seja, uma vez interrompida a estimulação, não
existem efeitos permanentes no cérebro.
Existem hoje mais de 100 mil pacientes implantados para esse tipo de doença
no mundo. Complicações são raras e a execução da cirurgia é minimamente
invasiva. A bateria (gerador ou marcapasso) dura em torno de 5 anos e a cirurgia
de troca do marca-passo é muito semelhante à troca do marca-passo
cardíaco.
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