O linfoma de Hodgkin acomete especialmente
indivíduos entre 20 e 30 anos de idade, e em outras faixas etárias é em
menor frequência. O tratamento é feito com quimioterapia associada ou não à
radioterapia, sendo a chance de cura nos estágios iniciais em torno de 80 a
90% e, nos estágios avançados, de aproximadamente 60 a 70%. Diante desse
cenário otimista, é muito difícil entender o motivo que levou o
"médico" da novela "Amor à vida" garantir apenas 6
meses de vida para a personagem Nicole. Para os pacientes da vida real já
existe uma infinidade de tratamentos que a cada dia elevam a expectativa de
vida para quem sofre com o linfoma ou até mesmo outros tipos de câncer.
A jovem Larissa Meira descobriu o Linfoma de Hodgkin aos 19 e hoje, aos 26,
conta que em nenhum momento os médicos a trataram como se a doença fosse
uma sentença de morte. "Em momentos complicados do tratamento, durante
a descoberta de uma recidiva em 2009, houve muitas incertezas sobre a minha
resistência a doença. Ao ver que a doença havia voltado de forma avançada
mesmo após o transplante em 2008, em menos de um ano após o tratamento, meu
médico foi sincero ao me alertar de que se não houvesse uma solução eficaz,
dificilmente eu passaria dos oito meses. Mas a perspectiva dele ao dar essa
notícia não foi de dar um sentença mas de acordar para a urgência do caso.
Lembro das suas palavras ainda: - Temos oito meses para achar uma medula
para você Larissa. Graças a Deus, pouco tempo depois foi encontrado um tipo
de transplante entre irmãos menos incompatíveis que realizei em fevereiro
de 2010. Aprendi que o médico pode ser verdadeiro e dar esperança ao mesmo
tempo. Acredito que essa não foi a intenção da trama", relembra
Larissa.
No caso da novela, o médico tirou as esperanças da jovem logo de início e
em pouco tempo, para dramatizar ainda mais o caso, a personagem foi
acometida por uma metástase pulmonar piorando ainda mais o quadro mas, na
realidade, nem mesmo uma metástase seria motivo para tirar esperanças de um
paciente. "O envolvimento pulmonar pelo Linfoma de Hodgkin configura
uma situação de maior gravidade aos pacientes. Entretanto, os resultados
não são ruins e existe possibilidade de resposta com o transplante de
medula óssea e o emprego de uma droga nova, o brentuximabe", afirma o
oncohematologista Celso Massumoto.
Outro debate levantado pela novela foi o fato da atriz não raspar a cabeça
o que causou a revolta de muitos pacientes em tratamentos, especialmente
porque nem toda quimioterapia significa raspar a cabeça. "Era uma boa
oportunidade de acabar com o drama que as pessoas fazem em torno do cabelo.
Eu tive câncer, fiz quimioterapia e não fiquei careca. Quando será que as
pessoas vão parar de achar que ter câncer significa apenas ficar careca e
morrer? Cabelo é o de menos para quem está lutando pela vida", diz Ana
Soares que descobriu um câncer de mama aos 28 anos.
"Ao meu ver, Nicole nada mais é do que uma visão da grande massa
brasileira sobre o que é câncer. Isso é lamentável. Não culpo o escritor
por pensar assim, mas acho que existem melhores usos dos meios de
comunicação. Que o câncer é uma doença muitas vezes cruel, todos nós já
sabemos. Que é uma doença que tem tratamento e na grande parte dos casos,
cura, também sabemos. Mas quem vai querer investigar um sintoma que pode
ser de uma doença grave se a "menina da novela" morreu menos de
seis meses depois que descobriu a doença? Infelizmente optou-se pela
ignorância", finaliza Larissa. A jovem está com 26 anos, curada e
recentemente tornou-se mãe da Maria Rosa. A realidade é muito melhor do que
a ficção.
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