Crônica: Mais do que um brigadeiro

Crônica: Mais do que um brigadeiro

O sábado começara agitado e alegre. Expectativa pelas atividades do dia. A casa já estava barulhenta e ainda eram 8 horas da manhã. Um cheirinho de café fresco misturado com o de bolo saído do forno. O lugar mais importante da casa naquele momento era a cozinha. Três mulheres falantes tomavam o café. Ao mesmo tempo, uma delas tinha à sua frente várias latas de leite condensado, que abria pacientemente com um abridor um pouco enferrujado. Eu estava lá, junto com minha irmã, aguardando a hora de lamber as latas vazias – com o cuidado de não machucar a língua e os dedos. Por que tanta agitação? Era o dia do meu aniversário de 10 anos. Tia Helena iria fazer brigadeiros e beijinhos de coco para a festa. Deliciosos!

Zuummmm…A manhã passou rapidamente. Ajudei com a preparação dos pequenos docinhos, que também enrolamos, com as mãos lambuzadas de margarina. Cuidadosamente, passamos um a um no chocolate granulado ou no coco ralado. As forminhas coloridas lado a lado na bandeja, para o momento de serem servidos. Precisava ter paciência. O bolo estava quase pronto. Tinham sido assados na véspera e, enquanto fazíamos os doces, minha mãe o confeitava com glacê cor de rosa e pequenas florzinhas de açúcar.

De repente, percebi o brigadeiro enorme que estava em minha frente. As lembranças tinham tomado conta da minha mente, nos poucos minutos que fiquei sentada naquela mesa da brigaderia. É…hoje em dia temos lojas especializadas em brigadeiro gourmet, como dizem. Chocolate é apenas um dos sabores do cardápio. Tem com pistache, nozes, castanha, limão, frutas vermelhas, damasco e o que mais a invencionice culinária permitir. Mas, para mim, nada substituía a delícia de preparar os brigadeiros na cozinha da minha casa a cada aniversário. Ver os convidados encherem as mãos ou um copo, ao final da festa, para levarem mais docinhos para casa. Dificilmente sobrava um. Felizmente, minha mãe guardava alguns no armário para a gente comer no dia seguinte – como se fosse um presente pelo cansaço que dava de organizar os festejos.  

Dei uma mordida no meu brigadeiro. Estava bom. Macio e realmente com sabor de chocolate – se era belga ou suíço eu ainda não conseguia diferenciar. Será que tem crianças por aí que ainda vivem esta experiência de preparar os brigadeiros para a própria festa de aniversário? O tempo passa. E, já era hora de eu voltar ao trabalho. O horário de almoço estava no fim. Comi o restante do brigadeiro. Eu ligaria aquela noite para minha tia Helena. Uma lágrima queria rolar no canto dos olhos de saudade daqueles dias de festa e da minha mãe.
                                                                                                                                                            

    

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