Uma rápida conversa com Machado de Assis

Uma rápida conversa com Machado de Assis

Machado de Assis, acredito que posso aprender bastante com você sobre como escrever crônicas!  Com muito orgulho, reconheço sua contribuição à literatura brasileira – mas é certo que este meu elogio é irrelevante no momento, pois seu nome já integra a lista dos nossos imortais faz um bom tempo. Entretanto, esta nossa conversa para mim significa muito, pois eu posso treinar meu texto e contar para você o que anda acontecendo pelas ruas, calçadas, elevadores e praças aqui de São Paulo.  
Mesmo com as muitas décadas de vida que nos separam, o seu argumento sobre como o calor é um tema que ajuda a criar uma crônica ainda é bem pertinente. O clima é um gatilho para se entabular conversas com conhecidos e desconhecidos pela vida afora. Agora, a gente debate também sobre aquecimento global, falta de chuva e destruição da natureza. Não tinha isso no seu tempo, não é mesmo?
Aproveito para contar também que os homens não carregam mais lenço no bolso ou usam sobrecasa e chapéu. Fazer roupa em alfaiates também é um hábito esquecido. Os trajes são comprados em grandes lojas, chamadas de magazines, ou em lojas que vendem tudo por preço de banana, em bairros como Brás e Bom Retiro. Agora, é o tempo da camiseta, da calça jeans, da camisa de manga curta, dos tênis. Quem tem mais dinheiro, pode ir a um shopping center e comprar o que se chama de roupa de “grife”, com caimento perfeito, bom corte e tecido nobre.
Voltando à questão do calor exagerado, mesmo em pleno inverno, nós lastimamos seus efeitos e podemos nos ver afetados pelo racionamento de água. O que é racionamento? De forma simples, posso dizer que é a falta de água nas nossas torneiras e um monte de queixas contra nossos governantes, que não investiram na gestão dos recursos hídricos, e reclamações contra São Pedro, que não nos manda a chuva.  
Quem trabalha na rua, exposto ao sol de rachar, continua sofrendo com o calor. Estão neste grupo os ambulantes, os garis, os operários que consertam o asfalto de nossas avenidas, os taxistas e também aqueles que abrem as covas nos cemitérios da cidade. Para combater o calor, aproveitamos para nos refrescar com sorvetes e comprar a garrafinha de água do vendedor no semáforo, com a esperança de que esteja geladinha. Na maioria dos escritórios, todos agradecem pelo frescor proporcionado pelo ar condicionado. Os desafortunados suam em bicas mesmo e reclamam. 
Dizem até que o inferno já chegou, mas eu ainda não tenho certeza. Como o calor não me amedronta, vou aproveitar para dar um passeio. Depois, volto para narrar um pouco mais do que vi e ouvi pela metrópole. 

Share this post

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *